PIRACICABA - HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
RADIO EDUCADORA DE PIRACICABA - 1060 AM.
JOÃO HUMBERTO NASSIF
Entrevistado: Jair de Souza Palma
Jair de Souza Palma é piracicabano, nascido no bairro da Vila Rezende em 
30 de setembro de 1950. Com um ar tranqüilo, vai aos poucos confessando 
sua paixão pelo rádio, pela Vila Rezende, por Piracicaba. Tem orgulho em 
ser católico praticante. Talvez seja o único piracicabano a ter uma 
Bíblia que traz, na primeira página, uma dedicatória em latim 
especialmente assinada por João Paulo II. Uma das suas grandes paixões é 
obter todo o material possível sobre o Papa João Paulo II. Jair confessa 
ser bairrista, gosta muito de ler, pesquisar, quer conhecer muito a 
história da Vila Rezende. Fã de música sertaneja, cururu, poema, procura 
manter a qualidade do seu acervo. Utiliza várias fontes de pesquisas: 
entre outros os autores: Marly Therezinha Germano Perecim, Pedro 
Caldari, Olívio Alleoni, Alcides Aldrovandi.
Hoje o senhor está aposentado, qual foi a sua atividade principal?
Trabalhei 38 anos em uma metalúrgica. Iniciei fazendo o café, limpando o 
escritório e aposentei-me como administrador da empresa. Em 1997 por 
motivos profissionais, tive a necessidade de aprender a trabalhar com 
informática. Até então eu dominava a máquina de escrever! Meu cunhado 
arrumou um monstro de um microcomputador, trouxe até a minha casa, e em 
três dias, com pequenos intervalos, fizemos um estudo de imersão! A 
empresa trocou os equipamentos, fui conhecendo mais coisas. Aos poucos 
fui fazendo progressos. 
Colecionador é o blog desenvolvido pelo senhor, alguém o ajudou a 
construir esse blog?
Eu fiz esse blog sozinho. Dá trabalho! Encontro isso tudo na internet. O 
fato de ser apaixonado por Piracicaba, além de Vila Rezende, tem assunto 
sobre Tupi, Santana, te alguma coisa referente a Piracicaba, mas com 
origem em Rio Claro, Santa Bárbara D`Oeste, praticamente da região, onde 
falam da mesma maneira minha: com o “érre” puxado! Eu não ganho nada com 
isso, não tenho publicidade, fiz isso porque muitas coisas do passado 
recente, os jovens de vinte e poucos anos não conhecem ninguém. Eles 
sabem que existe uma praça chamada Parafuso, porém sequer sabem quem 
foi! Nhô Serra foi meu vizinho! Só aqueles que têm um pouco mais de 
idade é que sabem quem foi Nhô Serra. Essas informações não são 
propriedades apenas do meu armário, elas devem circular, é fundamental 
saber da importância das pessoas que construíram a Vila Rezende, 
Piracicaba. Uns com música, outros com trabalho, com benfeitorias, como 
Mário Dedini. Pessoas que aqui viveram como Tião Carreiro que fala sobre 
o Rio Piracicaba. E outros que cantam a cidade como Sérgio Reis, Rolando 
Boldrim.
Qual é o endereço do blog do senhor?
O endereço é: http//:colecionador-jairministro.blogspot.com
O senhor nasceu em que local da Vila Rezende?
Nasci na Avenida Barão de Valença, próximo á escola Jerônimo Gallo. Sou 
filho de Lazaro de Souza Palma e minha mãe Tereza Barion de Souza Palma. 
Aos três anos de idade fui morar lá no Bairro do Pitá. No meio de pita 
(que se assemelha a um tipo de cizal) mesmo! Era no meio do pasto! A 
água era tirada de poço, por sinal saloba. Fiquei ali até 1958, quando 
comecei a freqüentar a escola José Romão. Nessa ocasião mudamos para a 
Travessa Padre Paiva, onde morei até 1975, época em que casei com a 
minha esposa Zuleize, nascida em Charqueada.Temos quatro filhos: 
Alexandre, Simone, Cibele, Adriano. Na época só a Avenida Rui Barbosa 
era calçada com paralelepípedo. Não havia calçamento nas ruas da Vila 
Rezende. O dia em que chovia para ir á escola José Romão era um 
sacrifício. Tinha que ir de galocha, que é um tipo de uma bota de 
borracha flexível, como se fosse uma luva para ser calçada sobre o 
sapato. Era para andar no meio do brejo, eu passava pelo meio do Nhô 
Quim. Quando chegava á escola, tirava os apetrechos, assistia à aula. Na 
época tive como professor Paulo Domingos Bonilha, do “Seu” Raul, do 
“Seu” Rufino. Naquela época fui aprender datilografia na escola da Dona 
Gilda, que ficava na Avenida Rui Barbosa, vizinha ao número 73. Eu 
trabalhei em um escritório contábil de Luiz Geraldo de Lima Paiva, o 
saudoso Luizito. Que ficava no número 72 dessa avenida. Meu primeiro 
trabalho foi na Camisaria Kraide, de Fued Elou Kraide, a gerente nossa 
lá era a Dona Nair, irmã do “Seu” Kraide. Trabalhei lá dois dias. 
Eu não era acostumado a fazer aquilo que hoje normalmente as pessoas 
fazem principalmente meus filhos fazem: ajudar na limpeza da casa. A 
Dona Nair mandou que eu fizesse a limpeza no banheiro masculino. Falei: 
“-Não Dona Nair! Nem na minha casa eu ajudo a minha mãe! Se for assim, 
eu estou indo embora!” E fui embora mesmo! 
Acredito que se tivesse permanecido lá eu seria um costureiro. Na época 
eu auxiliava o Remo, que jogou no São Paulo Futebol Clube, ele que era o 
cortador de roupa, montava as camisas. “Seu” Fued falou: “Você vai ficar 
aqui, irá auxiliá-lo e irá aprender a profissão dele.” O “Seu” Fued era 
do São Paulo Futebol Clube. Fui trabalhar no escritório do Paiva, depois 
fui trabalhar no Escritório do Despachante Lucas, do “Seu” Fernando 
Lucas. Ficava em frente á prefeitura antiga. Foi uma pena derrubarem 
aquele casarão. Lá foi residência do Barão de Serra Negra. Depois o 
Barão de Rezende, que era genro do Barão de Serra Negra veio a comprar. 
Era a casa dele no centro! Até hoje os mais antigos aqui da Vila Rezende 
falam: “-Eu vou para a cidade!” ou “-Eu vou para o centro”. O Barão de 
Rezende tinha aqui próximo da minha casa o solar, que era um casarão, 
que eu também conheci. Era o local aonde ele vinha passar o fim de 
semana. Só sobrou no local uma palmeira imperial, que não conseguiram 
derruba-la. Até a pouco tempo eu tinha um caco de azulejo da cozinha 
dele. Foi a única coisa que sobrou do solar do barão! Além disso, restou 
a palmeira e a saudade. 
Do Escritório Lucas o senhor foi para onde?
Permaneci lá uns dois anos. Eu ganhava 3.000 cruzeiros e pagava para ir 
trabalhar de bonde 3.600 cruzeiros! Pagava para trabalhar. Minha mãe me 
dava mais 600 cruzeiros para poder comprar uma carteirinha de passe de 
bonde. Isso para que eu não ficasse na rua! Nessa época eu tinha entre 
12 e 13 anos de idade. O correio ficava na Rua Alferes José Caetano 
esquina com a Rua Treze de Maio.
O senhor almoçava aonde?
Almoçava em um barzinho que tinha ao lado da Empresa Funerária Libório, 
onde é um prédio hoje. Eu quase não passava pela calçada da funerária, 
as urnas ficavam expostas, umas abertas outras fechadas. Evitava em 
olhar para a loja, procurava sempre olhar para o lado oposto. Onde é o 
Bradesco hoje existia o Doutor das Canetas. Eu era fanático por caneta 
tinteiro. Ele que arrumava canetas para mim. 
O senhor é um colecionador daquilo que o atraí?
Eu acho que sou um catador de coisas! (Nesse momento, Jair levanta-se, e 
apanha de uma estante um litro de leite de vidro, daqueles que se usava 
antigamente. Em perfeito estado de conservação, inclusive com as 
recomendações sobre a limpeza do litro após ser utilizado e a marca do 
produto.) Ele explica que esse litro de leite, ganhou de sua mãe. Deve 
ser do período de 1965 a 1970.
Após trabalhar no escritório de despachante o senhor foi trabalhar onde?
Fui trabalhar na Rádio A Voz Agrícola do Brasil, que ficava na Rua XV, 
atrás da Catedral, embaixo existe hoje um supermercado. Permaneci lá por 
quinze dias como sonoplasta. Não gostei muito. Quem me incentivava era o 
Carlos Cantarelli que foi meu vizinho. Ele queria fazer de mim um 
engenheiro de som! 
O senhor conheceu Vovô Simões?
Fui muito lá! Era um programa de auditório, transmitido do antigo prédio 
da Radio Educadora de Piracicaba, que ficava na Rua São José com a Rua 
Governador Pedro de Toledo.
Depois o senhor foi trabalhar onde? 
Entrei na Metalúrgica Mantoni, de propriedade de Mario Mantoni. Entrei 
lá fazendo limpeza, fazendo café e servindo aos clientes. 
O senhor como colecionador, iniciou com qual item?
Comecei colecionando lápis. Tinha de todos os modelos. Depois passei a 
colecionar selos. O “Seu” Carlos do correio da Vila Rezende, que ficava 
na Avenida Rui Barbosa, onde hoje está a Caixa Econômica Estadual, me 
incentivou muito para colecionar selos.
Colecionei miniaturas. Quando temos criança em casa é difícil sobrar 
alguma coisa! 
O que a sua esposa acha sobre o senhor ser colecionador?
Ela observava! 
O senhor tina um avô e um nonno?
O meu vovô, José de Souza Palma, era filho de bugre. Uma mistura de 
caboclo com índio, bem do mato. O outro avô, do lado da minha mãe que é 
descendente de italianos, era o meu nonno (avô em italiano). Quando meu 
vovô ia á casa dos meus pais eu pegava do bolso dele um cigarro, mais 
para brincar, eu não fumava na época eu tinha uns doze anos de idade. 
Ele fumava Mistura Fina, fumou também Fulgor. Um dia eu inventei de 
acender um cigarro no fundo do quintal de casa. 
 Deu uma tosse, fiquei atordoado, brigaram comigo. Comecei a fumar 
escondido. Quando comecei a trabalhar em escritórios, era moda fumar. 
Também funcionava como uma muleta psicológica.
O senhor colecionava maços de cigarros?
Colecionei. Quando comecei a namorar a minha mulher o meu cunhadinho 
descobriu que eu tinha essa coleção. Tinha marcas argentinas, 
paraguaias, chilenas. Era comum naquela época estabelecer 
correspondência com meninas de outros países. Eu correspondia com uma 
menina da Espanha que gostava de revistas em quadrinhos. Nós usávamos o 
“portunhol” e nossas correspondências. Naquela época eu já mexia com 
rádio amador.
O senhor começou a praticar o rádio amador com que idade?
Praticamente eu nasci no meio de rádio! Com um ano de idade minha mãe 
contava que quando ia á casa do meu nonno fazia a minha caminha dentro 
da oficina de rádio. Ele construía rádio. O nome dele era Vicente 
Antonio Barion. A oficina dele ficava na Rua Dr. Eulálio, na Vila 
Rezende. Quando foi feita a planta de loteamento pelo Barão de Serra 
Negra, os nomes colocados nas ruas não foram em decorrência de decretos 
legais e sim por escolha do próprio barão. Isso foi em 1902. Assim 
surgiram as Ruas Da. Lídia, Da. Francisca, Dom João Nery, Dr. João 
Teodoro.
Qual é o seu prefixo no rádio amador? 
O meu primeiro rádio eu mesmo construí, foi em 1965 ou 1966. Era o 
chamado “lambari”, com três válvulas apenas. Sempre gostei muito de 
eletrônica. Não existia soldador elétrico era aquecido no fogão a lenha. 
Eu baixei o meu prefixo. Era PY2 ERY. 
